domingo, 13 de junho de 2010

Malhação




Vi esse texto maravilhoso (mas antigo), no blog (desativado) do Fernando Caruso...

(Entra vinheta da Malhação, a cena abre, revelando uma sala de aula. Chega o professor)
Prof – Bem, turma, vamos dar continuidade à aula. Na semana passada, estudávamos os batráquios. Vimos como os batráquios, ao se reproduzirem...

(prof. continua mexendo a boca, sem sair som. Ninguém na turma presta atenção nele. Mudança de foco para dois alunos conversando no fundo)

Aluno 1 – Cara, você viu o que aconteceu com a Júli?

Aluno 2 – Não, o que aconteceu?

Aluno 1 – Ela tava super triste porque o pai dela deu falência no Banco. Agora eles vão ter que se mudar para uma casa menor e se readaptar para todo um estilo de vida que não é o dela.

Aluno 2 – Cara, que downs... È o que eu sempre digo: essa política de flutuação monetária nunca dá certo. Sempre alguém tem que pagar o pato pelos juros altíssimos que esses economistas safados cobram. E as tarifas sobres as alíquotas de movimentação de docs e transferências de papéis também não ajudam em nada.

Aluno 1 – É. Isso mesmo.

Prof – Ei! Dá pra parar de papo aí atrás, por favor? Eu estou no meio da aula? (alunos pedem desculpa) Então, retomando, os batráquios, quando chega o inverno, precisam...
(mudança de foco novamente)

Aluno 3 – Ei, vocês tavam falando da Júli? Eu soube que o pai dela deu desfalque no Banco por causa da política de flutuação monetária injusta que esses economistas aplicam em cima do cidadão comum.

Aluno 1 – Pois é...

Aluno 2 – Tremenda sacanagem...

Prof – Puta que me pariu! Agora eu vou ter que ficar dando aula aqui pra ninguém? Que merda é essa? Vocês não conseguem calar a boca um minuto? São SETE horas da manhã cacete!! Que que vocês tanto falam às SETE HORAS DA MANHÃ?!? (PAUSA) Quer saber de uma coisa? Vou fazer a chamada, depois eu continuo. (pega a chamada) Juliana Antunes.

Aluno 1 – (se levanta) Professor, a Juli faltou.

Prof (mais calmo) – Senta meu filho. Como assim, faltou? Por que?

Aluno 3 – (se levanta) Ela tá com uns problemas em casa, professor...

Prof (ligeiramente perdendo a paciência) – Senta, meu filho. Como assim problemas em casa? Se a pessoa tá com problemas em casa, ela resolve e vem pra aula. Que que eu tenho a ver com os problemas dela? Infelizmente vou ter que anotar ela aqui.

Aluno 1 (levantando) – Peraí professor, você não pode fazer isso com a Juli!

Prof – (para si) Caralho, será que ninguém sabe falar sentado nessa joça? Não posso fazer o quê, meu filho? Dar falta pra ela? A menina faltou, eu dou falta pra ela. Eu, hein!

Aluno 1 – Mas é justo quando a pessoa está mal, precisando de ajuda, que a gente deve dar suporte e apoio para ela. E a Juli ta mal, precisando de ajuda, a gente devia dar suporte e apoio pra ela. Não é galera?

Todos – É sso aí! Com certeza!

Aluno 2 – Eu acho que a gente devia ir até a casa dela e fazer uma surpresa pra dar uma animada nela, o que que vocês acham?

Todos – Boa! Vambora! É isso aí!

Prof (botando ordem, tapando a saída) – Vocês enlouqueceram?! Vocês estão no meio da aula!! Vocês acham que eu vou deixar vocês saírem só porque vocês resolveram visitar uma amiga?? Que quê isso!? Eu tenho matéria pra dar! Além do mais, quem, em sã consciência vai visitar alguém às SETE HORAS DA MANHÃ?!?!? Deixa a menina dormir, cacete! (os ânimos se acalmam) Senta todo mundo aí. Agora, pelo amor de Deus, me deixem pelo menos continuar com a chamada. Rogério.

Aluno 3 – É Formiga, professor.

Prof (irônico) – “Formiga”?

Aluno 3 – É como o pessoal me chama...

Prof – Mas teu nome é Rogério.

Aluno 3 – É uma estória meio longa, mas é engraçada, um dia o pessoal queria...

Prof – Tá bom! Não quero saber, Rogério...

Aluno 3 (corrigindo) – Formiga.

Prof - ...“Formiga”... Fica quieto e deixa eu continuar aqui, antes que eu te esmague na parede... “Alessandro”.

Aluno 1 – É Sagüi, professor. A galera me chama de Sagüi.

Prof – Ah, meu amigo, faça me um favor! Eu sou seu professor! Você quer que eu fique te chamando de “Saguí” em sala de aula? Pelo amor de Deus... Fica na tua... (continuando) Tiago.

Aluno 1 – Mamute, professor.

Prof – Porra, ninguém tem nome de gente nessa merda? É tudo nome de bicho? Não tem um João nesse zoológico? Um Pedro, um Rodrigo? Que porra é essa? Não vou chamar ninguém de bichinho não, caralho! Eu hein! Isso parece mais um comercial a Parmalat... (silêncio) Bem vamos ver se agora eu consigo continuar a aula... Os batráquios tem três estágios de vida, o primeiro... (entra um aluno esbaforido)

Aluno 4 – Aí, galera! Chega aí! Vocês precisam ver o que o Alface tá aprontando lá na lanchonete! (a galera faz menção de se levantar mas o prof. estora)

Prof – PUTA QUE O PARIU, AGORA CHEGA! (PUXA UMA ARMA) Agora eu me irritei! Ninguém vai a lugar nenhum! Senta o rabo aí! Qual é teu nome, animal?

Aluno 4 – É Bolado, professor...

Prof – Bolado? Que raio de nome é esse?

Aluno 4 – É que eu to sempre Bolado com as coisas, avisando todo mundo...

Prof – E quem te dá o direito de sair por aí invadindo a sala dos outros DURANTE a minha aula?

Aluno 4 – É que o Alface...

Prof – Eu não quero saber do Alface, do Ketchup, da Maionese... Eu to CAGANDO pra ele! Eu quero todo mundo quietinho, como se fosse gente normal. O primeiro que falar sem pedir licença leva uma bala na cabeça! Combinado? Rogério, apaga o quadro.

Aluno 3 – É formiga, professor (POW! Professor atira nele)

Prof – Não te perguntei nada... Alguém mais aí quer me corrigir?

Aluno 2 – Professor, eu acho que não é certo você fazer isso com o Formiga. Cada vida é uma dádiva divina e deve ser respeitada. Isso é errado. Nós vamos fazer um abaixo assinado e expulsar o senhor... (POW! Professor atira nele)

Prof – Abaixo assinado de cu é rola... E você? Tá olhando o quê? (Aponta a arma pro Aluno 1. Dá uma pausinha e atira) Também nunca fui com a tua cara. Bem, Bolado, parece que só você vai passar de ano agora. Somos só eu e você. Por favor, tente não me irritar, ok?
(põe a arma na cintura e volta a lecionar. Bolado, apavorado, presta atenção sem se mexer na cadeira. Luz sai em fade, entra vinheta da Malhação)

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